domingo, 29 de maio de 2011

Continuação de A floresta da maldição

-você é o maledictus, o espírito amaldiçoado da floresta. - a jovem sussurrou.
-quase certo, minha bela – ele levantou-se com dificuldade e posicionou-se como pode com a corrente na perna. – na verdade, não sou espírito, nunca morri, apenas sofri uma maldição e fui condenado a viver para sempre preso a essa pedra nesta clareira.
-o que voce fez para ser amaldiçoado? – Yara não agüentou a curiosidade.
- digamos que eu fiz besteira. - ele encerrou o assunto.
                Passaram-se alguns dias, Yara se sentia mas próxima do jovem a cada dia, não queria ir embora para ser forçada a casar-se com Acauã, sentia-se melhor com o anjo amaldiçoado. Depois de algum tempo, ela percebeu que seu novo amigo estava cada vez mais inquieto, e começou a imaginar se ele estava cansando-se de sua companhia, se fosse isso ela teria então que partir e voltar para o povoado de seu pai.
                Yara recusava-se a partir, pois sentia que estava apaixonada por Alec, embora ele passa-se todo o tempo preso, ela sentia que ele pensava o mesmo.
-  Alec – ela desistiu de esperar ele falar algo- acho que está na hora de eu voltar para casa.
- Casa? Não volte minha donzela, fique e case-se comigo – ele levantou-se e tomou as mãos dela entre as dele.
                Ela então, emocionada, aceitou, convencendo-se de que sua inquietude de antes era por causa do futuro pedido.  Decidiu tentar libertá-lo, pegou uma enorme pedra e golpeou  a corrente, uma, duas, três vezes, já sentia a corrente arrebentando-se, deu um ultimo golpe,a única coisa que viu foi a maldita prisão de seu amado deixando de existir, “se eu soubesse que era tão fácil teria feito antes” pensou, então instantaneamente apagou.
                Acordou com a luz da manhã, a cabeça doía, olhou ao redor, onde estava seu anjo?   Voltou a procurar, com certeza não estava na clareira, levantou-se e deu uma largo passo pra frente,  sentiu algo preso em sua perna, uma corrente grossa e familiar.
-bom dia Yara- O jovem entrou na clareira – vejo que conheceu as limitações de minha maldição.
-por que estou presa? Soltei você para casarmos - ela tentou abrir a corrente, era impossível
-bom, lamento, mas esse não é o plano- ele deu de ombros- a muito tempo atrás, quando eu era jovem imprudente, achei uma bela clareira na floresta...
-o que você quer dizer?
-nessa clareira, havia uma linda jovem, a mais linda que eu já vi, ela jazia deitada num canto, como algo inútil- ele continuou-  após nos conhecermos melhor, apaixonei-me por ela, mas ela não podia sair graças a uma grossa corrente que lhe prendia a uma pedra. Pedi ela em casamento, ela aceitou, lembro da felicidade que senti quando ela disse que casaria-se comigo.
-você... -A jovem Yara não conseguia falar
- eu sentia pena de ver minha futura esposa presa naquela pedra, ela disse-me que havia sido amaldiçoada, enchi-me de coragem e decidi solta-la, arranjei um grande bastão e golpeei a corrente até ela ceder, qual não foi minha  surpresa quando ela tomou o bastão gentilmente de minha mão e golpeou minha cabeça. Acordei preso a essa pedra e ela explicou-me a historia, para ser libertado, seria preciso ser solto por alguém que me amasse verdadeiramente, então eu trocaria a liberdade da pessoa pela minha, ganhando assim não só minha liberdade, mas também a imortalidade, por ter agüentado o sofrimento por longo tempo antes de aparecer minha salvadora- ele levantou-se e bateu o pó da roupa - Bom, agora é hora de eu ir, adeus Yara, irei procurar a jovem pela qual me apaixonei.
                Dissendo isso ele partiu, deixando Yara sozinha na clareira, presa pela perna na sua maldição.
Um século depois
                Um jovem rapaz entrou correndo na clareira perseguindo um porco selvagem, parou para admirar uma jovem que jazia num canto, aproximou-se, ela abriu os olhos e sorriu
-olá jovem cavalheiro, sou Yara, o que faz tão longe de terras habitadas?...

quinta-feira, 26 de maio de 2011

A floresta da maldição

Em um lugar distante, uma jovem chorava, olhava o luar pela janela de seu quarto e se perguntava o porquê. Por que ela sofria tanto. Por que ela tinha que se casar com ele, ela nunca o amou. Por que seu pai insistia em tomar uma decisão que só a fazia sofrer.
                Ela era Yara, filha do chefe da aldeia, seu pai havia decidido que ela devia se casar com o filho do chefe da aldeia vizinha, selando assim um pacto entre as duas aldeias, que se tornariam uma só, liderada pelo rapaz, Acauã.
                Ele era um bom rapaz, bom caçador, inteligente, gentil e bonito, mas ela nunca o amou. Tentou dizer isso ao seu pai, mas ele a disse que não havia escolha, a outra aldeia era maior e mais forte, quando chegasse o período de guerra eles seriam esmagados por essa ou outras.
                Na noite anterior ao casamento, Yara correu até a floresta, não pensava em fugir, nunca amou o rapaz, mas queria o melhor para o seu povo, apenas queria se deitar ao luar e se sentir livre pela ultima vez, esse foi seu erro.
                Estava escuro, ela entrou e se encaminhou para a clareira a que costumava passar os dias tristes, chegando perto ouviu um som alto, uma espécie de gemido e algo parecido com carne sendo dilacerada, ela correu, assustada.
                Correu até cair de cansaço, suas energias esgotadas, ela apenas ficou ali o resto da noite, presa na própria bolha de tristeza.
                Pela manhã, o sol forte a acordou, ela levantou-se assustada, estava em um lugar desconhecido, o mais longe que já fora em sua vidinha miserável.
                Ela voltou a correr, provavelmente estava atrasada para o casamento, correu até entrar em uma clareira, o lugar mais lindo que já vira em sua vida, a um canto, repousando gloriosamente estava o rapaz mais lindo que já vira, os cabelos negros como breu caiam de um jeito encantador pela pele acobreada, ele tinha a cabeça encostada em uma pedra e parecia dormir.
                Yara se aproximou devagar, não queria acordar o jovem, que mais se parecia com um anjo, andou lentamente até uma curta distancia, quando ergueu o braço para tocar o rosto do anjo, ele abriu os olhos, ergueu a cabeça e a encarou com a expressão tranqüila
-bom dia, jovem donzela. O que faz tão longe das terras habitáveis?-o anjo se levantou e se postou de joelhos, tomando delicadamente a mão da menina entre as dele e dando-lhe um beijo.
-eu me perdi. -foi a única coisa que Yara conseguiu dizer.
-perfeitamente compreensível, eu mesmo te mostraria o caminho de volta, mas como pode ver, não tenho como sair do lugar. –O rapaz indicou a grossa corrente que prendia sua perna.
-o que houve com você? – Yara se deu conta de que já ouvira lendas a respeito do lindo jovem que vivia na floresta, preso pela perna em uma pedra, dizia-se que ele nunca poderia sair dali por causa de uma maldição que sofrera a décadas atrás.
- acho que já ouviu algo a meu respeito, certo? – o garoto suspirou, era óbvio que conhecia algumas das lendas a seu respeito
CONTINUA...

quinta-feira, 14 de abril de 2011

O garoto de rosto inocente

Ele nunca foi feliz, mantinha no rosto a aparência de uma criança que não recebeu o que esperava , tinha um rosto tão estranho, mantinha no rosto jovem uma estranha inocência que nunca seria vista no rosto de outros meninos de sua idade. Era apenas conhecido como o garoto de rosto inocente no seu povoado, nunca falou uma palavra e nunca deu um sorriso.
                Seu único costume era pegar uma velha canoa e ficar no mar até anoitecer, depois, com a expressão mais triste, voltava a terra e desaparecia, reaparecendo na manha seguinte para realizar o mesmo ritual.
                Até que um dia após sair para o mar, houve uma grande tempestade, ele não voltou ao seu povoado nesse dia, nem nunca mais.
                Sua canoa resistiu à tempestade, mas foi afastada da aldeia, ele passou dias no mar, sem comer, apenas olhando o céu e pensando se seu sofrimento teria fim.
                Quando morrer já parecia inevitável, sentiu um leve solavanco, sua canoa chegara a terra. Estava em um lugar totalmente desconhecido, mas estava vivo.
                Desceu o mais rápido que foi possível, com suas forças esgotadas, e lá estava ela, uma linda garota de cabelos dourados e olhar sincero que olhava o mar no exato ponto onde sua canoa estava, ela caminhou em sua direção, parou na sua frente e sorriu.
-você me fez esperar demais, sabia?-Ela sorriu e pela primeira vez o garoto sentiu que encontrara o que estava procurando.
-desculpe. –ele sorriu também, o primeiro sorriso sincero de sua vida.
                Os dois caminharam juntos até a floresta e partiram para sempre, nunca mais foram vistos, ambos encontraram o que estavam procurando. Para sempre juntos, a menina dos cabelos dourados e o menino do rosto inocente.

A menina dos cabelos dourados

A menina dos cabelos dourados

                Ela sempre esteve ali, todo dia na mesma hora, olhando o mar. Nunca disse uma palavra a qualquer pessoa que passasse, apenas estava ali, durante horas, ia embora ao anoitecer e retornava na manhã seguinte.
                Era apenas a menininha dos cabelos dourados, parecia sempre estar à espera de algo, mas nunca pareceu triste, nem por um segundo, apenas esperava silenciosa e pacientemente algo. As pessoas se acostumaram com a menina, logo não ligavam mais por ver alguém lá fora, na praia, não importa o clima, sol ou chuva, ela estava lá fora olhando o mar.
                Nunca desviou o olhar fixo do mar, nunca reclamou de estar ali, apenas chegava, sentava e punha-se a observar a água. Passaram-se alguns poucos anos, ela já não era tão jovem quanto era quando chegou ali, mas mantinha o costume estranho. Nunca sorriu, mas também nunca demonstrou tristeza, apenas estava ali esperando o seu destino.